"SAI DE BAIXO" QUE ELES ESTÃO VOLTANDO

Um convite para um jantar no antigo apartamento no Largo do Arouche, enviado pela ex-empregada Neide, a todos os ex-patrões, dá início a uma ótima ideia do Canal Viva para comemorar seu terceiro aniversário, a reedição do humorístico “Sai de Baixo” (Rede Globo), em quatro novos episódios.
E a trupe do Arouche volta com tudo. Caco Antibes (Miguel Falabella), Magda (Marisa Orth), Vavá (Luiz Gustavo) e Cassandra (Aracy Balabanian) aceitam o convite, mas se assustam com a nova condição da ex-subordinada Neide (Márcia Cabrita). Agora ela é rica. Aliás, muito rica. E comprou e mora no antigo apartamento, já que Vavá não pagava o condomínio.
Essa foi a sacada dos roteiristas Artur Xexéo e Miguel Falabella para a reunião de um elenco que durante seis temporadas finalizava os domingos dos brasileiros, tornando-os menos chatos. Bem diferente do que existe hoje na TV brasileira.
Os quatro ex-patrões vão ter que aguentar Neide ostentar a sua nova condição social e ainda vão se submeter a morar de favor no mesmo apartamento. Eles estão sem dinheiro. Mas não espere que isso dure muito tempo. A própria Márcia Cabrita, que dá vida à Neide, entende que “vão encontrar uma forma da nova rica voltar a ser empregada”.
Sob direção de Dennis Carvalho, cujo núcleo, na Rede Globo, pertencia o programa “Sai de Baixo”, a atração volta ainda mais politicamente incorreta, o que significa que vai manter sua essência. Criticar as “coisas de pobre”, as características e cultura populares era uma constante no “Sai de Baixo” e uma ousadia que a Globo dificilmente cometeria hoje quando a palavra “gay”, conforme a sua entonação, por exemplo, pode causar sério rebuliço.
Nesta semana e na próxima o elenco se reúne para as gravações no mesmo teatro de antigamente, o “Procópio Ferreira”, em São Paulo. Desta vez um público seleto poderá presenciar as gravações, composto essencialmente pelos convidados dos patrocinadores.
Os programas inéditos já têm datas definidas para irem ao ar no Canal Viva (TV por assinatura). Anote aí:
EPISÓDIO 1
11.06 (terça-feira), às 20h30
15.06 (sábado), às 20h00
16.06 (domingo), às 23h30
EPISÓDIO 2
18.06 (terça-feira), às 20h30
22.06 (sábado), às 20h00
23.06 (domingo), às 23h30
EPISÓDIO 3
25.06 (terça-feira), às 20h30
29.06 (sábado), às 20h00
30.06 (domingo), às 23h30
EPISÓDIO 4
02.07 (terça-feira), às 20h30
06.07 (sábado), às 20h00
07.07 (domingo), às 23h30

ELENCO COMPLETO
Do elenco original de “Sai de Baixo” apenas Tom Cavalcante (o porteiro Ribamar) e Cláudia Gimenez (empregada Edileuza) não participam desse “revival”. Tom Cavalcante queria participar mas não conseguiu agenda, já que está fazendo diversos shows pelo Brasil. Cláudia Gimenez foi a única que recusou a ideia. Em compensação, Ingrid Guimarães faz participação especial no segundo episódio como a noiva de Caco Antibes.
Recusa equivocada a de Cláudia Gimenez. A reedição de “Sai de Baixo” para comemorar os três anos do Canal Viva, antes de tudo, é um presente aos atores e demais profissionais que fizeram sucesso no programa por seis temporadas. É um reconhecimento pouco comum no Brasil, que deve ser louvado.
PROJETO DE LUIZ GUSTAVO
Um dos maiores atores brasileiros, Luiz Gustavo, que teve personagens inesquecíveis na TV brasileira como o cego Léo de “Te Contei?”, o detetive maluco Mário Fofoca, de “Elas por Elas”, o genial Victor Valentim, de Ti Ti Ti (a verdadeira de 1985), entre tantos outros, foi o autor da ideia de “Sai de Baixo”.
Certa vez ele pediu uma reunião com o diretor Daniel Filho e apresentou o projeto de um programa humorístico, feito como uma peça teatral, com plateia, gravado como se fosse ao vivo.
Não foi difícil para a direção da Globo “comprar” a ideia e colocar no ar, em 1996, o programa “Sai de Baixo”, nas noites de domingo, logo após o “Fantástico”.

Para alegria do telespectador, o humorístico incorporava todos os previstos e imprevistos de um programa ao vivo. Era como nos primórdios da TV. Se errava o ator tentava corrigir naquele momento, contando com a ajuda dos colegas.
Daniel Filho percebeu que essa fórmula oferecia descontração e o relaxamento natural para as noites de domingo e liberou os atores para improvisarem mas sem que saíssem do roteiro. Pronto, tinha encontrado a fórmula de “Sai de Baixo”. Uma bagunça organizada. Se muitas vezes a história não fazia jus à qualidade do elenco, este, por sua vez, reagia e transformava o programa numa confusão engraçada. Do jeito que o povo queria ver.
Do elenco original, Cláudia Gimenez ficou apenas um ano encarnando a chata e fora do tom, empregada Edileuza. Mais um golpe de sorte do humorístico. Márcia Cabrita deu uma certa leveza na empregada da casa. Diminuíram-se os gritos e trejeitos exacerbados. Entrou uma atriz que tinha a capacidade de ser engraçada apenas olhando para a câmera ou com frases mais curtas. E bem menos espalhafatosa.
Outro fator positivo foi a saída de Tom Cavalcante em 1999. Ele vinha muito bem nos anos anteriores e quando começou a sair do ponto deixou o programa. Mesmo assim, o elenco sentiu muito mais a falta de Tom do que de Cláudia Gimenez.
Durante as seis temporadas, passaram pela direção de “Sai de Baixo”, além de Daniel Filho e Dennis Carvalho, José Wilker, Jorge Fernando e Cininha de Paula.

Muitas cenas hilárias foram marcadas pelo improviso e erros de marcação. Elas iam ao ar porque o público entendeu muito bem a proposta. Nenhum compromisso com o “padrão Globo de qualidade”, mas todo o compromisso com o humor, com a comédia de situações.
Não é fácil fazer esse tipo de programa. É preciso contar com atores extremamente inteligentes e experientes. Tom Cavalcante nasceu no teatro, improvisando. Aracy Balabanian e Luiz Gustavo são mestres e Cláudia Gimenez fazia humor desde os tempos do “Viva o Gordo”. Restavam as incógnitas Miguel Falabella e Marisa Orth.
Se Cláudia Gimenez decepcionou, Miguel Falabella e Marisa Orth se encontraram e entenderam o “timing” do programa. Passaram a interagir com o público, com os câmeras, outros profissionais e isso provocou uma empatia que, com toda certeza, será a mesma nesses quatro novos episódios.

Dessa vez os roteiristas serão Artur Xexéo e o próprio Miguel Falabella. Nas outras seis temporadas o roteiro esteve sob responsabilidade de Maria Carmen Barbosa, Noemi Marinho, Flávio de Souza, José Antonio de Souza, Nani, Gilmar Rodrigues, Duba Elia, Bruno Sampaio, Juca Filho, César Cardoso, Elisa Palatnik, Cláudio Paiva, Aloísio de Abreu, Lúcia Manzo, José de Carvalho, Laerte e o próprio Falabella.
Aliás, o caso de Falabella é mais uma obra do excelente Daniel Filho. Ele fora contratado apenas para ser redator, mas a visão do diretor lhe proporcionou a oportunidade de dar vida a Caco Antibes, com grande sucesso.
Com ar de nostalgia você poderá acompanhar, no Canal Viva, esse reencontro.
E “Sai de Baixo”!
Vale a recordação, como aperitivo. Reveja dois episódios completos. O primeiro da segunda temporada e o outro da quarta temporada.