A IMPORTAÇÃO DE MÉDICOS

13/06/2013 15:10

            O debate está intenso em todo o país e a polêmica é a convocação de médicos de outros países para trabalharem no Brasil.

            Para a gente entender a questão proposta pelo governo federal, vamos aos fatos, ao contexto nacional na área da saúde.

            É um dos piores setores do serviço público e rivaliza com a segurança os altos índices de reprovação ou descontentamento da população. Basta você ler pesquisas de opinião em cidades do interior, onde o problema é mais acentuado. Não há administrador público que não sofra com a saúde.

            Bem, daí você pergunta a esse administrador os motivos de tal descontentamento e vai receber como resposta, na maioria das vezes, que faltam médicos. Em alguns casos, prefeitos afirmam que abrem concursos e as vagas não são preenchidas.

            Vamos ao outro lado. Indague a um médico porque ele não se interessa em prestar serviço público para trabalhar em cidades do interior. Ele vai responder, pela ordem: salários baixos, falta de condições dignas de trabalho e falta de estrutura para o bom atendimento. Em alguns lugares, falta até segurança.

            Tudo o que está descrito acima é inegável, tanto de um lado, como o de outro.

            Nesse impasse, o Ministério da Saúde, que afirma que o Brasil tem um déficit de 54 mil médicos, resolveu levantar uma questão polêmica. Se os médicos brasileiros não querem as vagas, convocam-se profissionais de outros países.

            Imediatamente pensou-se em Cuba, que já sinaliou que há profissionais para serem enviados ao Brasil. Logo depois vieram Portugal, Espanha, Canadá e Inglaterra. Aliás, Brasil e Portugal devem assinar um acordo para acelerar o reconhecimento de diplomas de médicos de Portugal no Brasil. O mesmo valeria para os profissionais brasileiros em Portugal.

            Inicialmente seriam importados 6 mil médicos. Medida paliativa. O próprio governo afirma isso. Ou uma forma de pressão, de jogar a opinião pública contra os médicos e deixa-los acuados? Vale o seu raciocínio e a sua opinião.

            POLÍTICA PÚBLICA

            Para quem defende a importação dos médicos, os profissionais brasileiros precisariam pensar mais na população. Mas, será que eles têm condições para isso? Há uma política pública de saúde que garanta a boa atuação dos médicos nas cidades mais afastadas dos grandes centros. Eles têm acesso a cursos de qualificação profissional? O maior problema da escassez de médicos é no Norte e Nordeste.

            Também não é difícil saber que não há boas condições de trabalho. Em muitos casos o profissional se sente amarrado e não consegue evoluir no atendimento por falta de aparelhos, laboratórios, hospitais e leitos de UTI. O cenário nos rincões do país é desolador.

            Há milhares de médicos desempregados no Brasil, que não se sentem atraídos para prestar serviços ao SUS (Sistema Único de Saúde), entenda-se setor público. É por isso que o Conselho Federal de Medicina (CFM) afirma que há médicos suficientes no país, o que não existe são condições dignas de trabalho. Nas pequenas cidades os médicos praticam o que eles chamam de “ambulanciaterapia”. Ou seja, o atendimento é feito em ambulâncias. É o recurso que lhes é oferecido. Não há hospital, laboratórios, consultórios etc.

            O CFM até aceita a importação de médicos, mas reivindica a revalidação do diploma. Esses profissionais teriam que passar por uma nova avaliação para trabalharem no país. Acontece exames criteriosos quando profissionais brasileiros tentam trabalhar em outros países e precisam revalidar seus diplomas,

            A reivindicação dos médicos brasileiros não é levada em conta pelo governo? Eles querem condições mínimas de trabalho, implantação de uma carreira de Estado, aumento no orçamento público do SUS e melhorias salariais. Difícil? Difícil aumentar o orçamento e destinar mais verba para a saúde, direito básico de qualquer cidadão?

            E também não se sabe, corretamente, se cidades do Norte e Nordeste receberiam médicos suficientes para terem o problema resolvido. Em matéria publicada pela Folha de S. Paulo desta quinta-feira (13.06.13) o Ministério da Saúde afirma que os médicos importados atenderiam, também, a periferia das cidades grandes, onde as condições de trabalho também não são boas. Vai continuar muita gente sem médico.

            Para você pensar, mandar suas opiniões e discutir conosco: é preciso importar os médicos, mesmo sendo apenas 6 mil num déficit de 54 mil? Com que condições esses médicos trabalhariam, com as mesmas de hoje? Se for melhorar as condições, porque o governo não ofecere um novo tipo de estrutura aos profissionais brasileiros? Fica mais barato importar médicos do que investir em equipamentos, hospitais, laboratórios, plano de carreira e salários maiores?

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