A REVOLUÇÃO PAULISTA DE 1932

Para a gente entender a chamada “Revolução Constitucionalista de 1932” ou a “Revolução Paulista” ou a “Guerra Paulista” temos que voltar no tempo dois anos para analisar os motivos que levaram o povo paulista a “pegar em armas”. (no final, assista vídeo-documentário)
Desde o governo do presidente Afonso Pena (1906 a 1909) existia um acordo entre os estados de São Paulo e Minas Gerais. O presidente da República seria sempre de um desses estados, escolhidos alternadamente, Era a “politica do café com leite”, como ficou conhecida. E assim foi feito até chegar as eleições presidenciais de 1930.
O presidente era o paulista Washington Luiz. Na campanha de 1929 ele preteriu a vez do candidato de Minas Gerais e indicou o paulista Júlio Prestes para substituí-lo, com o apoio de 17 estados.
Para as eleições de 01 de março de 1930 houve, então, um racha. Os mineiros, revoltados, se uniram no Congresso à bancada gaúcha e prometeram apoio à Getúlio Vargas, que não aglutinava as lideranças necessárias para enfrentar Júlio Prestes.
Os estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul formaram a “Aliança Liberal” e lançaram os candidatos Getúlio Vargas para presidente e o presidente do estado da Paraíba (na época era essa a denominação para o que hoje é chamado de “governador”), João Pessoa. O Partido Democrático de São Paulo também passou a apoiar Getúlio Vargas o que deu esperança para a Aliança enfrentar Prestes.
Num cenário de crise econômica a eleição foi um massacre. Júlio Prestes venceu com folga em 17 estados. Venceu, mas não tomou posse e o problema que se resumia na discordância de São Paulo e Minas tomou maiores proporções.
A ala mais radical da “Aliança Liberal” aproveitou o assassinato de João Pessoa para pegar em armas. O crime não teve motivação política, mas foi bem aproveitado por aqueles que queriam vencer na força.
Em 24 de outubro de 1930 houve um golpe militar, liderado por militares do Rio de Janeiro, que tiram Washington Luiz do poder à força. Para piorar, jogam fora a Constituição, esquecem aquilo que o povo decidira nas urnas e em 03 de novembro de 1930 entregam o poder ao segundo colocado das eleições, Getúlio Vargas, nomeado chefe do Governo Provisório.

Foi instalada uma ditadura por Getúlio Vargas. Congresso Nacional Fechado, nomeação de interventores nos estados. Vargas sabia que necessitava instigar o desentendimento entre São Paulo e Minas Gerais, motivo primário para que tivesse chegado ao poder. Por isso, não nomeou interventor apenas em Minas Gerais, o que deixou revoltado ainda mais o estado de São Paulo. Getúlio também acabou com as Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores. Foi radical. Nesse clima, o então chefe do Governo Provisório criou o Ministério do Trabalho.
CONTROLE
Quando se ganha o governo na força e não no voto, o governante tende a endurecer no trato político-social e Getúlio Vargas não fugiu à regra. Havia um controle total do governo. Os estados, por exemplo, foram proibidos de buscar empréstimos externos sem que houvesse a autorização federal.
Júlio Prestes, o presidente eleito impedido de tomar posse, o presidente deposto, Washington Luiz e outros apoiadores foram exilados. Jornais que discordavam do golpe militar como os paulistas “A Plateia”, “Folha de S. Paulo”, “Correio Paulistano” e os cariocas “A Noite” e “O Paiz” foram destruídos pela ditadura.
SENTIMENTO DE REVOLTA
É claro que essa situação desagradava os brasileiros, os paulistas principalmente, mas também outros estados pela força demasiada da ditadura em tirar liberdades e, fundamentalmente, descumprir a Constituição Brasileira.
A primeira grande manifestação, que chamou a atenção da ditadura de Getúlio Vargas, foi um comício na praça da Sé, em São Paulo, no dia 25 de janeiro de 1932 (aniversário da cidade). Cerca de 200 mil pessoas foram protestar com cartazes “abaixo a ditadura”.
Mas, em todo movimento revolucionário, sempre há um fato que motiva o apoio da população, da opinião pública em geral. E o estopim para a Revolução de 1932 aconteceu em 23 de maio daquele ano, quando cinco jovens estudantes foram friamente assassinados a tiros, no centro de São Paulo, por partidários da ditadura.
Foram mortos: Mário Martins de Almeida, Euclides Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes de Sousa, Antonio Américo Camargo de Andrade e Orlando de Almeida Alvarenga. Logo eles ficaram conhecidos pela sigla MMDC (Martins, Miragaia, Drausio e Camargo).
E o movimento ganhou forma com esse nome: MMDC
ARMAS

Getúlio Vargas, já um tanto acuado e preocupado com a revolta dos paulistas, que poderia contagiar outros estados, havia estabelecido eleições para a Assembleia Nacional Constituinte para 09 de julho de 1932. Já havia, também, nomeado um interventor paulista para São Paulo. Essas eram duas reivindicações paulistas e Getúlio quis atendê-las para arrefecer os ânimos.
Mas não conseguiu, principalmente porque a influência do governo federal e dos tenentes em São Paulo continuava em demasia.
Na data das eleições, 09 de julho, o movimento tomou forma. Os paulistas acreditavam que poderiam buscar e conquistar o apoio de outros estados, principalmente o antigo aliado, Minas Gerais, e os estados do Rio Grande do Sul e o Mato Grosso.
Em meio ao movimento revolucionário, Pedro de Toledo foi nomeado governador e comandou a Revolução Civil Constitucionalista composta por voluntários civis e militares. No atual Mato Grosso foi formado um estado independente, o estado de Maracaju, que apoiou o povo paulista. Minas também voltou a se aliar a São Paulo, inclusive com o apoio do ex-presidente, Artur Bernardes.
A reivindicação era o fim do governo de Getúlio Vargas e a promulgação de uma nova Constituição para o Brasil.
A decepção dos paulistas foi o Rio Grande do Sul, considerado o estado mais bem armado, prometera apoio à revolução mas enviou homens para enfrentar São Paulo e defender o governo de Getúlio Vargas.
TROPAS MAIS FORTES
Nos combates era visível a força das tropas federais, melhores equipadas. Além disso, houve habilidade do governo de Getúlio Vargas em espalhar pelo Brasil que o movimento paulista era separatista. Isso deixou São Paulo praticamente sozinho, contando com o apoio apenas de Mato Grosso.
Havia três frentes de luta: Vale do Paraíba, Sul Paulista e Leste Paulista. Os confrontos armados existiam nesses locais. Algumas cidades do interior paulista também sofreram combates, principalmente depois que São Paulo se viu num cerco militar.

Em meio ao movimento, o estado de São Paulo chegou a criar uma moeda própria. A ditadura não deixou por menos. Falsificou-a e a distribuiu para a população, provocando uma desestabilização na economia paulista.
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Sem a televisão, a Revolução de 1932 foi marcada pela publicidade através do rádio, que tinha alta penetração naquela época. Tanto a ditadura quanto os revolucionários paulistas tentavam ganhar a opinião pública e aliados através desse meio de comunicação.
Era comum durante a programação, pronunciamento de ambos os lados para o convencimento da população.
A ditadura se utilizava também de pessoas infiltradas em comícios paulistas. Essas pessoas tinham a missão de disseminar o derrotismo.
Em setembro de 1932 a derrota paulista começou a se desenhar mais claramente. Cidades do interior foram invadidas pelas tropas de Getúlio e teve início à rendição.
No final, com a vitória da ditadura de Getúlio Vargas, o comandante das forças militares do Sul, general Valdomiro Castilho de Lima, foi nomeado governador militar de São Paulo.
Os estudantes Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo estão inscritos no livro de heróis da Pátria.