AI, O PRIMEIRO AMOR (por Mônica Bayeh)

24/02/2014 13:19

    A criatura experimentou uma blusa. Parou na frente do espelho. Jogou cabelo para um lado. Jogou cabelo para o outro.

    - Tá boa?

    - Tá.             

    Mudou de blusa e recomeçou todo o processo.

    - Tá boa?

    - Tá.

    - Qual blusa tá melhor?

    - Tudo na mesma.

    - Poxa....

    - Não é para ir no inglês? Então, tá tudo bom.

    - Ih, mãe....

    - A  não ser que haja algum interesse por lá...

    - Ih, mãe

    - Se houver interesse, a outra está melhor.

    Ela pensa em ir. O pensamento é mais rápido. Ela hesita, antes de se mexer. Me encara séria.

    - Ah, claro! Se eu for, é porque tenho interesse.

    Não tinha me ocorrido essa ideia. Ótima ideia, alias. Mas não foi minha, foi dela. Eu só pensei na paquera. Lembrei de meus tempos de curso de inglês. Tive meus interesses além do To be. E experimentava roupas pensando em como seria.

    Rever ali aquele processo vivo, na minha frente me abriu um baú de memórias ótimas. Eu, inocente, esquecida de ser mãe, só queria dar uma dica.

    - Eu conheço você, tá , mãe. Acha que me pega? Não pega não.

    E lá se foi com a segunda blusa. Muito menos bonita que a outra. Se tem mesmo a paquera...Torço para que seja feliz.    

    Mônica Bayeh é psicóloga, especializada em crianças, adolescentes e famílias, pós graduada em psicopedagogia e colaboradora do Caderno no Divã. 

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