ELES DESAFIAM A CABEÇA DOS ALUNOS
Rafael Cinoto e Alexander Denarelli
O estímulo ao aprendizado é a melhor ferramenta de um professor. Em busca dessa fórmula, os professores Paulo, Neuza, Alexander e Rafael encontraram no cubo mágico a saída perfeita para ajudar alunos a descobrirem várias lógicas, que foram muito além da solução de um dos mais temíveis quebra-cabeças.
“Se você consegue resolver o cubo mágico, você consegue também resolver seus conflitos e suas dificuldades no aprendizado escolar, vencendo o cubo mágico você consegue transpor barreiras”. A frase é usada por alunos de Neuzanir Gonçalves Itacarambi de Almeida, 50 anos, professora da rede estadual de educação de Goiás.
Neuza, como é mais conhecida, estava pesquisando formas de melhorar habilidades e competências de seus alunos de educação profissional. Em 2012, descobriu o uso do cubo em escolas e entendeu que “era a peça que faltava” em suas aulas de matemática.
“Dentro do projeto de educação profissional não consegui aplicar por causa da burocracia”, conta. Mas ela não desistiu. Em 2013 voltou para o ensino regular e a sua ideia de trabalhar com o cubo foi muito bem recebida pela coordenação do Colégio Juvenal José Pedroso, que não mediu esforços para colocar em prática.
“Os alunos da educação pública têm um índice muito alto de defasagem do conhecimento. Na sua maioria não sabem cálculos básicos como das quatro operações”, afirma Neuza, dizendo que os professores buscam inserir recursos que visem recuperar essa defasagem, principalmente de concentração e cálculos mentais, para que os estudantes possam seguir com o ensino médio.
Com a implantação do ensino médio integral em escolas de Goiás, a professora viu se tornar realidade as aulas eletivas de cubo. “Os resultados foram até surpreendentes. Eles passaram a ter mais autoestima, segurança e persistência na resolução dos exercícios”, diz, lembrando que a melhora foi sentida não só em matemática, mas também em outras disciplinas.
Mas o ponto mais exaltado pela professora e pelos alunos é o “espírito de ajuda”, que se espalhou para o convívio escolar e para a vida de cada um, como uma fórmula para vencer obstáculos. Por isso o uso da frase que inicia essa entrevista.
OBJETIVO - Se o objetivo de Neuza foi rapidamente atingido em Goiás, o projeto ainda é perseguido por Alexander Denarelli, 51 anos, professor de Educação Física da Escola Estadual Felipe Cantusio, de Campinas (SP), pedagogo e historiador. “Vejo o cubismo como uma atividade extremamente salutar para todas as faixas etárias, como um bom exercício mental”, afirma.
Como professor do ensino fundamental e médio, Denarelli já apresentou o cubo há muitos alunos e viu o interesse deles. Alguns alçaram voos mais altos, ampliaram o conhecimento com vídeos no Youtube e participam de campeonatos, muitas vezes acompanhados pelo professor. “Meu sonho seria realizar um evento na escola e que daí surgisse uma nova geração de cubistas”, diz Denarelli.
O projeto de levar o cubo mágico para a escola nunca foi implantado por falta de apoio financeiro. “Não adianta levar 6 ou 7 cubos para uma classe de 40 alunos. O ideal é doarmos um cubo para cada aluno, para que possam aprender e treinar em casa”, explica o professor, que ainda sonha em criar uma equipe de cubistas.
O fascínio pelo cubo não é recente. A primeira vez que o cubo chamou a atenção de Denarelli foi durante um programa de TV do apresentador Silvio Santos, na década de 80. O professor comprou o cubo e teve ajuda do pai de um aluno, que era físico da Unicamp e fez um rascunho com os passos para a solução.
Depois comprou um livreto que ensinava como montar. “Na época eu era o único entre parentes e amigos que sabia resolver o cubo, e isso era motivo de orgulho para a minha família e para mim”, revela. O tempo passou e Denarelli só voltou a ter contato com o cubo em 2011, quando viu na internet sobre eventos de cubo mágico, divulgados por Rafael Cinoto e Fábio Bini.
AULAS DE CUBO - Com Rafael Cinoto, 29 anos, aconteceu exatamente o inverso. Os alunos é que pediram para que ele levasse o cubo para a sala de aula, depois de descobrirem na internet que ele sabia resolver o quebra-cabeça. Ele conta que aprendeu com um ex-aluno, em 2005.
Bacharel em psicologia e graduando em licenciatura em matemática, Cinoto é hoje um dos maiores divulgadores do cubo mágico no Brasil. Além de delegado da Associação Mundial de Cubo (WCA) e promotor de eventos oficiais, Cinoto realiza oficinas e apresentações de cubo mágico em escolas.
Como professor de matemática complementar, ele implantou o uso do cubo em duas escolas. Ele diz que, embora o cubo trabalhe habilidades como concentração, perseverança, memorização e antecipação do raciocínio, ele acredita que a melhora da autoestima é o principal.”Quando um aluno percebe que uma coisa que parece muito difícil é solucionada com dedicação, passa a se interessar mais por estudar”, ressalta. Muitas vezes isso é o que gera a aproximação do professor e da disciplina, em geral matemática.
Cinoto conta que já trabalhou com crianças de 8 a 15 anos sempre com resposta favorável. Uma observação interessante é que, com crianças a partir de 12 anos, muitas vezes acontece de apresentarem maior dificuldade em começar o aprendizado, mas logo que três ou quatro alunos da sala solucionam, todos veem que é possível e aprendem também. “Nem todas as crianças que aprendem vão fazer do cubo um hobby e continuar brincando, mas acabam fazendo novas amizades e interagindo melhor com parentes e amigos”, acredita.
Paulo Santos
Como toda criança nascida após a década de 80, o professor Paulo Murillo dos Santos, 31 anos, também teve contato com o cubo mágico na infância, mas só em 2011 aprendeu as ideias e técnicas para resolvê-lo. “Foi aí que entendi que era uma ferramenta interessante para despertar a atenção dos alunos, num momento em que ter concentração parece ser uma tarefa tão difícil”, diz.
Na opinião de Santos, o cubo tenta resgatar essa capacidade de focar em um objeto com um determinado objetivo claro. “Os alunos aprendem algoritmos (sequência de procedimentos), combinações, geometria plana, espacial e desenvolvem habilidades motoras incríveis”, afirma Paulo, que tem licenciatura plena em matemática pela Universidade Federal de Goiás.
Com o cubo mágico, ele trabalha em oficinas e projetos especiais do Colégio Integrado Jaó, em Goiânia (GO). Em geral são formadas turmas de até 20 alunos com o professor e monitores auxiliares, além de uma lousa digital ou um data show que ajuda a visualizar o cubo em tamanho maior. São dois encontros com duas horas cada para ensinar o cubo para alunos do 6º ano do Fundamental II até o 3º ano do ensino médio.
“Percebo que os alunos passam a se interessar em descobrir não só os algoritmos para o cubo,mas também a descobrir os segredos de outros cubos e jogos que nos auxiliam na lógica, e portanto, na matemática”, analisa.
Na avaliação do professor, o estímulo ao cubo mágico é uma ótima oportunidade da escola promover o desenvolvimento de assuntos matemáticos e das ciências de maneira lúdica e interativa. “É a tentativa de fazer com o estudo da lógica, da combinação e da geometria seja menos cansativo e mais próximo da realidade dos alunos”, finaliza.
INTERESCOLAR DE CUBO MÁGICO – O 1º Campeonato Interescolar de Cubo Mágico do Brasil vai acontecer dia 14 de setembro, em São Paulo. Inspirado no campeonato escolar da França, o evento vai reunir pela primeira vez cerca de 200 alunos representando 20 escolas de todo o Brasil.