FALANDO EM BRUXAS, DO QUE VOCÊ TEM MEDO?
O Halloween é tradicional da cultura americana e foi muito difundido pelos filmes e seriados dos Estados Unidos. No Brasil foi propagado pelas escolas de idiomas, que começaram a promover a Festa das Bruxas e incentivar a brincadeira com crianças que devem bater nas casas e perguntar: Doces ou travessuras?
Para quem é nacionalista, porém, o dia 31 de outubro pode ser comemorado como Dia do Saci, instituído por lei federal em 2003, e que tenta trocar a figura da abóbora assustadora americana pelo moleque de capuz vermelho e uma perna só, embora seja mais lembrado mesmo em agosto, mês do folclore.
Mas todos esses símbolos remetem mesmo a um sentimento: MEDO. Você tem medo de bruxa, de saci, de barata, de ser assaltado, de morrer? A lembrança do halloween ou do saci pode ser uma boa oportunidade para discutir e enfrentar os seus fantasmas.
Foi isso que a equipe do Colégio Educap de Campinas fez ao iniciar a participação no projeto EPTV na Escola 2013 (afiliada da Rede Globo), que tinha como tema “Você tem medo do que?”, e estimulava alunos a escrever uma redação sobre o assunto.
Mas no Educap, segundo a orientadora educacional Rita Carvalho, houve grande envolvimento dos alunos e dos familiares, com a realização de palestra com psicóloga, expressão dos medos em cartazes e até entrevistas nas ruas sobre o medo, por exemplo com policiais.
Tudo começou pelas aulas de redação do 9º ano do ensino fundamental, mas se transformou em uma grande terapia, segundo a professora Angela Peguim, que tem medo da falta de acesso à educação digna e de não atingir os adolescentes com valores indispensáveis à vida: caráter. “Ocorreram debates, discussões, revelações, desabafos e a turma encerrou a atividade muito melhor do que iniciou”, afirmou.
Veja medos que os alunos do Educap revelaram em entrevista ao Caderno de Educação:
Laura Kazumy Shimojo, 14 anos, 9º ano, pretende trabalhar com música ou livros. “São duas formas que eu encontro para melhor me expressar”. E conta:
“Meu medo é um temor comum dos jovens. Meu medo é não saber o que a vida me reserva para o futuro, o meu destino. Medo de ficar sozinha no futuro, de perder meus pais e principalmente da rotina.
Descobri esse meu medo quando a música entrou na minha vida e desde então, tive o sonho de trabalhar com melodias, que me faziam tão bem. Até que um dia alguém me disse que eu não tinha aptidão para a música, desde então, a insegurança tomou conta de mim e deixei de acreditar na minha voz e até mesmo no meu talento. Depois dessa descoberta, passei a ter medo de mostrar o que eu mais amava fazer, cantar. Deixei de acreditar no meu potencial.
Antes do projeto, eu tinha problema em me expressar e cantar em público, mas depois que consegui dividir com meus colegas o meu maior medo, sou mais feliz, consigo cantar, sem medo das críticas e certamente o que me ajudou a superar meu medo, de muitos anos, foi o apoio que recebi de meus amigos.
A melhor forma de enfrentar o medo é compartilhá-lo com outras pessoas (amigos, familiares), pois eles , sem dúvida poderão ajudar. Todo medo precisa ser enfrentado para impedir que a vítima enfraqueça e tenha seu futuro prejudicado. Eu acho muito interessante conhecer os medos das pessoas, poder me identificar com elas que têm os mesmos medos que eu e até outros piores, isso me ajuda a enfrentar meus medos.
Alexandre Corral, 14 anos, 9° ano A, pretende ser psicólogo, por isso com certeza vai ajudar outras pessoas a enfrentar o medo.
“ Eu tenho medo de ladrão. Eu descobri esse medo por causa da minha mãe e do jornal. Por parte da minha mãe, porque ela sempre falava que os índices de violência/assaltos estavam muito altos, lia notícias nos jornais sobre assaltos, estupros e assassinatos de pessoas dia após dia. E isso causou muito medo em mim quando eu era criança (6 ou 7 anos), e é um "trauma' que levo desde aquela época até agora.
Depois dessa minha descoberta, eu passei a ter muito medo de andar de ônibus (continuo com esse medo até hoje). Sempre que ando a pé nas calçadas, tenho medo de alguém apontar uma arma para mim, ou começar a me perseguir.
Com esse projeto, eu descobri novos métodos de evitar esse tipo de situação. Como? Não usar muitas roupas de luxo e jóias em ônibus e lugares públicos (shopping, centro de cidade). Antes, como eu não sabia dessas informações, não saía muito de casa e tinha uma mãe super-protetora. Eu não me importava muito com esse medo, apesar de saber que ele existia.
As melhores alternativas são usar os macetes necessários e saber a maneira certa de enfrentar esse medo. Só assim você saberá se era um medo ilusionista (que você pensa que tem, mas na realidade não tem), ou se é um medo real. E dependendo da alternativa, isso muda sua maneira de pensar e de agir.
Eu particularmente nunca fui assaltado, mas minha avó foi, e ela disse que o mais importante é procurar manter a calma, e fazer tudo o que o assaltante mandar.
Lucca Scozzafave – 14 anos, 9º ano, pretende seguir a carreira de Diplomata, que é um mediador entre países e de conflitos, que muitas vezes geram medo.
“Eu tenho medo do futuro. Descobri esse medo quando percebi que existem escolhas e que o tempo passa muito rápido. Depois da descoberta percebi que não devia me preocupar exageradamente com o futuro.
Antes do projeto, eu nem pensava que em determinado momento de minha vida escolhas seriam necessárias,. À medida que eu ia me envolvendo com o projeto fui me tranqüilizando e aprendendo a lidar com aquele “monstro”, o medo, que não era tão assustador como eu pensava. A melhor forma de enfrentá-lo é através do diálogo. O que eu mais achei interessante foi poder me livrar do medo através de um projeto realizado na escola.
Julia Zanini Campos, 14 anos, 9º ano, ainda não decidiu que caminho seguir profissionalmente, mas com certeza vai fazer a escolha sem medo.
“ Tenho medo do futuro, de tomar uma decisão errada, descobri esse medo no 9º ano, com a proximidade do Ensino Médio, vestibulares. O projeto mudou meu modo de pensar sobre meu futuro, senti-me mais segura. Antes eu escondia meus medos, agora, depois do projeto, consigo falar a todos sobre eles com mais facilidade.
Na minha opinião, o medo deve ser combatido para que possamos viver. Na maioria das vezes, pensamos somente no lado negativo do medo, mas o que poucos percebem é que ele tem um lado positivo, é aquele que nos impede de cometermos atos cruéis.
Lucas Koga de Souza , 14 anos, 9º ano, com certeza vai mandar todos os seu medos para o espaço, já que pretende ser engenheiro aeroespacial.
“ Tenho medo do fracasso no futuro. Descobri meu medo após ficar nervoso nas provas. Mas descobri também que o medo é passageiro.
Eu não ligava para esse medo, pois ele me impulsionou a estudar mais ainda para as provas, por isso o projeto me ajudou muito. Mas alguns medos precisam da ajuda de profissionais. Meu medo é passageiro, ele apenas me impulsionou a estudar para não atingir o fracasso.
A discussão aberta na escola fez com que não só os jovens, mas até pais e avós superassem antigos medos. Segundo Angela, os professores das outras disciplinas também ficaram orgulhosos do envolvimento dos alunos e notaram que saíram mais seguros da experiência. “Sou muito feliz por participar de um processo educativo tão eficaz. O meu sonho é que um dia todos tenham direito à Educação que realmente merecem”, afirmou a professora.
Medo de barata, palhaço, violência, do futuro, de crescer, de provas, do fracasso, da solidão, de falar em público, da timidez.... E você, tem medo do quê? Bom momento para refletir e conversar sobre o assunto.
Veja aqui a matéria da EPTV sobre o projeto no Colégio Educap