MÃE E FILHA (por Mônica Bayeh)

Você acha que tudo tem, pelo menos, dois lados? Se enganou. Tem muito mais do que isso. Pense a respeito.
Versão 1
Ela chega do trabalho. Acho que vem atacada, sei lá. Até me cumprimenta. Quer dar beijo, fazer carinho, um saco. Nem faço questão. Sem falar que se atrapalha com meu fone de ouvido.
Aí reclama da toalha que deixei no chão, do quarto desarrumado, dos copos espalhados vazios e dos sacos de Doritos que comi e não joguei fora. Que neura! Eu digo , com toda paciência: Já vou, calmaí, peraí. Aí é que ela piora. Acho que se eu xingasse o efeito era melhor. Poxa, porque será que ela não me entende?
Versão 2
Chego do trabalho, depois de um dia inteiro de ralação. Exausta. Vou falar com todo mundo, saber como foi o dia. Ela nem me olha. De fone de ouvido, vendo filme no laptop, tuitando com os amigos. Tudo ao mesmo tempo.
Quero dar beijos, ela fala : ã ou tá. Entendo que não sou bem-vinda. Mas sou insistente. Aí começo a olhar para o lado e paraliso! A toalha continua no chão. O lixo de dois dias atrás ainda está lá, Copos vazios por todo lugar. Ela passou o dia inteiro deitada na cama , na internet? Como assim?
A louça da pia deu filhotes. Nada do que pedi ela fez. Fico furiosa. Me sinto incompreendida. Sozinha. Desvalorizada em todo o meu esforço. Falo com ela. Sabe o que me responde? Calmaí, peraí, já vai. Aí eu surto, né? Poxa, porque será que ela não me entende?
Mônica Bayeh é psicóloga, especializada em crianças, adolescentes e famílias, pós graduada em psicopedagogia e colaboradora do Caderno no Divã.
Tópico: MÃE E FILHA (por Mônica Bayeh)
Nenhum comentário encontrado.