O CÉREBRO TEM SEXO

09/09/2013 17:57

          

            Se homens são de Marte e as mulheres são de Vênus nos relacionamentos, no cubo mágico meninos são “gestalt” e meninas são “serial”. Isso é uma referência ao método cerebral que cada sexo usa para solucionar o quebra cabeça, ativando diferentes áreas do cérebro, o que explicaria maior quantidade de meninos praticando ou se interessando pelo cubo. Em campeonatos, por exemplo, meninas representam cerca de 10%.

            Altay Alves Lino de Souza, doutor em psicologia pela USP e com atuação na área da neurociência, explica que uma das habilidades do cubo envolve movimentos de rotação mental, e de fato os meninos possuem maior habilidade em atividades desse tipo, principalmente quando envolve a solução de cubos com os olhos vendados. “Por isso espera-se que os meninos tenham mais interesse nesse tipo de atividade”, comenta, lembrando que para se chegar a essa conclusão foram feitos variados testes.

            Pesquisador da área de Psicobiologia na Unifesp, o professor explica que os estudos mostraram que meninos e meninas utilizam processos mentais diferentes em atividades de rotação. Isso significa que o cérebro masculino e feminino usam estratégias diferentes para solucionar o cubo.  “Existem áreas cerebrais diferentes envolvidas em um mesmo processo”, acrescenta.

            O movimento dos meninos é chamado de “gestalt”, que utiliza o lobo parietal superior do cérebro e parte do princípio que o movimento por completo é visualizado para a solução. Já as meninas usam a estratégia serial, com ação do córtex frontal inferior, o que demanda a visualização do movimento de rotação aos poucos e maior memória de trabalho para a execução de todos os passos.

            Mas Altay Souza alerta que isso não significa que as meninas tenham menos capacidade de solucionar o cubo mágico. “Com o treino, acabamos desenvolvendo outras estratégias para a resolução rápida e isso também leva à utilização de outras áreas cerebrais associativas. Logo isso nos mostra que com treino, meninos e meninas podem chegar aos mesmos resultados, com certeza”, explica, salientando que as mulheres podem e devem praticar o cubo mágico.

            O pesquisador afirma que embora os estudos com ressonância magnética apontem a predominância de uma área do cérebro, para a realização de atividades, como o cubo mágico, existe na verdade um processo de associação de todo o cérebro. Ele diz que no caso do cubo, mais do que memorizar o algoritmo de resolução é importante ter a memória motora dos movimentos.

            “As pessoas que resolvem o cubo mágico bem rápido na verdade não pensam na resolução, mas sim sentem”, afirma.  O que acontece, segundo o pesquisador, é que com o tempo de prática a atividade se torna mais automatizada, desocupando um pouco o córtex pré-frontal e as atividades atencionais, semelhante o que acontece quando se toca um instrumento. “É por isso que pessoas com grande prática conseguem fazer outra atividade durante a resolução do cubo”, exemplifica.

            BENEFÍCIOS - A prática do cubo mágico pode ajudar a melhorar a coordenação motora fina, reflexos e capacidade de concentração e atenção por mais tempo, segundo o professor  de pós-graduação na área de Psicobiologa.

            Também pesquisador da Uniesp, Altay diz que as pesquisas que envolvem o cubo mágico ainda são bastante incipientes, por exemplo em relação à melhoria de desempenho em cálculo e atividades mnemônicas (memorização de fórmulas, listas...). “Não sabemos ainda se as pessoas que praticam o cubo tem maior facilidade em cálculo e por isso brincam com o cubo ou se sua habilidade se desenvolveu com a prática”. Ele diz que esses testes devem ser feitos em laboratório.