TATIANA BELINKY, UM PRESENTE PARA O BRASIL

17/06/2013 10:53

            Talvez um dia o Brasil entenda o presente que ganhou em 1929 quando, vinda de Riza (capital da Letônia), chegou ao país a escritora Tatiana Belinky. Ela, natural de Petrogrado (Rússia), hoje São Petersburgo, faleceu sábado, em São Paulo, aos 94 anos.

            Talvez, nem a própria Tatiana Belinky tivesse a dimensão da obra que realizou e que agora deixa para a história.

            Se você quer conhecer o íntimo dessa escritora, que tinha no seu conhecimento e cultura a maior fonte de riqueza e inspiração, leia seu livro de memórias “Transplante da Menina – da Rua dos Navios à Rua Jaguaribe”. Com um pouco de atenção vai sentir a sua bondade, generosidade e intenção de educar através de suas palavras, suas histórias.

            Quando o termo “educar” é citado, não podemos esquecer que logo em 1948 a escritora fundou o Teatro-Escola de São Paulo. Logo depois, já casada com Júlio Gouvêia, adaptou com o marido o “Sítio do Picapau Amarelo”, obra de Monteiro Lobato, que é um mito da literatura infanto-juvenil para o Brasil. Também para a TV produziu telepeças para a extinta Tupi de São Paulo.

            Mas o desafio maior para Tatiana Belinky era escrever para os jovens. Todos os escritores sabem o que significa fazer sucesso na chamada literatura infanto-juvenil. Um segredo? A sua humildade intelectual. Jamais subestimou a inteligência da juventude, sabia e reconhecia o potencial renovador, autêntico e até sonhador dessa parcela de leitores. Escrevia como ninguém aos jovens.

            Foi autora de mais de 200 livros. E isso é apenas um número perto da bagagem cultural oferecida para seu público e que fica à sua disposição para sempre. Inventou cenários, um mundo complexo de aventuras com prosa e verso. Seus livros exalavam sentimentalismo, verdade, fantasia. Eis outro segredo. A fantasia.

            Consciente da sua função de, antes de ser escritora, agir como uma educadora, tornou popular entre as crianças as estrofes rimadas e cômicas de “limericks”, gênero inglês. Ela sabia da importância de oferecer acesso, para a nossa juventude, à esse tipo de literatura. E o “traduziu” de modo que fosse aceito por aqui. Isso revela o seu conhecimento do interior dos nossos jovens. Poucos escritores têm essa capacidade, na verdade é a sua sensibilidade, mais uma vez, refletida em seu trabalho.

            Não deixe de ler Tatiana Belinky. Como sugestão apontamos “Dez Sacizinhos” (1998), “A Operação de Tio Onofre” (1985), quando sua imaginação é exacerbada através da fantasia de crianças e adultos de mudarem os nomes das coisas, “Que Horta” (1987), com a invenção de plantas engraçadas, “O Caso do Bolinho”, onde narra as aventuras de um bolo que canta etc.

            A escritora também traduziu obras de Turgueniev, Tolstói, Púchkin, Tchékhov, Makarenko, Klipping e Dickens.

            Dois prêmios devem ser destacados. Em 1989 Belinky recebeu o “Prêmio Jabuti”, como personalidade literária do ano e em 1991 o prêmio da Fundação Abrinq pelos Direitos das Crianças.

            Ela plantou, você pode e deve colher os frutos.