VIDA QUE TE QUERO VIVA(por Marcus Phlavio)

20/05/2014 20:07

Hoje gostaria de compartilhar com vocês minhas desculpas, pela presença da minha ausência na semana passada, pois estava com um ente mais que querido em estado critico de saúde e cuidados e que agora se pode dizer em recuperação.

Ao me deparar com meu ente em estado de quase morte, foi que finalmente percebi que o meu medo era do tamanho do infinito, multiplicado pelas estrelas que nem o brilho chegamos a ver e que talvez o medo não fosse da morte e sim da vida. Sim, medo da vida, medo de me ver sem meu ente querido, sem meu pedaço de oxigênio que carrego e transbordo a me ver com saudades e profanar seu nome dentre os gritos silenciosos por vezes provocados por estímulos tais como: cheiro, sabor, músicas, estações do ano e também o soprar e velar do vento, que sempre molda com muros a leveza da vida.

Ter medo faz parte do desenvolvimento e continuação de nossas vidas e existências, porém sempre achei que deveria ter medo da morte, de perder alguém, de não ter trabalho, espaço, moradia, família, amigos, colegas e inimigos e também medo de só receber a indiferença de todos e de ninguém. Então fui presenteado com a dádiva de se conhecer outro tipo de medo, que na verdade não me seria de todo desconhecido, pois em minha ocupação laboral ele sempre esteve ao meu lado e das pessoas com as quais compartilho vivências por vezes traduzidas no tempo em que estamos juntos no meu consultório. E qual seria esse medo que a todos acompanha? Que a todos talvez estimule e emule suas vidas?

O medo de estar vivo, de continuar a escrever na estrada, cujo caminho se dá na curva do infinito, na subida de um horizonte e na perpendicular do universo, onde me dou conta que além de mim, outros também são seres finitos de infinitas possibilidades e inacreditáveis saudades. Saudades de tudo que se é e não se pode ser, pelo simples fato de ter sido e ao tecido de suas tramas e marcas, fazendo uma tatuagem em nossa memória de tudo o que mais queremos e por muitas vezes não sabemos e que somente quando a mais bela e odiosa donzela vem bater em nossa porta pedindo para zelar e revelar nosso caminho, que talvez nos faça depurar tais indagações: estou com medo realmente do quê? Do seu abraço frio, que todos iremos nos acalentar um dia? Das minhas preces, orações, promessas, sacrifícios, graças, glórias e bênçãos, que acreditei ter alçado êxito durante toda minha vida?

Arrisco dizer que talvez o real e terminal medo, seja de ter que continuar, sem saber quem não sou, que não gosto de espiar e talvez se identificar com o inverso do reflexo dos espelhos de nossas expectativas jamais proferidas e alcançadas, porém desejadas e ensinadas a todo instante .

Ter me deparado com a possibilidade de continuar a viver sem um ente querido, me deixou a possibilidade de querer estar vivo a todo instante, com todos e com tudo e por todos e por tudo, sempre desejando nada além do que o presente da presença, que a vida nos dá a cada segundo.

E vocês? Preferem morrer na vida que continua ou a viver a morte de se continuar vivo e se presenteando com a presença?

Marcus Phlavio é psicólogo e escreve as terças-feiras no Caderno no Divâ

 

 

 

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