VIDA QUE TE QUERO VIVA(por Marcus Phlavio)

Hoje gostaria de compartilhar com vocês minhas desculpas, pela presença da minha ausência na semana passada, pois estava com um ente mais que querido em estado critico de saúde e cuidados e que agora se pode dizer em recuperação.
Ao me deparar com meu ente em estado de quase morte, foi que finalmente percebi que o meu medo era do tamanho do infinito, multiplicado pelas estrelas que nem o brilho chegamos a ver e que talvez o medo não fosse da morte e sim da vida. Sim, medo da vida, medo de me ver sem meu ente querido, sem meu pedaço de oxigênio que carrego e transbordo a me ver com saudades e profanar seu nome dentre os gritos silenciosos por vezes provocados por estímulos tais como: cheiro, sabor, músicas, estações do ano e também o soprar e velar do vento, que sempre molda com muros a leveza da vida.
Ter medo faz parte do desenvolvimento e continuação de nossas vidas e existências, porém sempre achei que deveria ter medo da morte, de perder alguém, de não ter trabalho, espaço, moradia, família, amigos, colegas e inimigos e também medo de só receber a indiferença de todos e de ninguém. Então fui presenteado com a dádiva de se conhecer outro tipo de medo, que na verdade não me seria de todo desconhecido, pois em minha ocupação laboral ele sempre esteve ao meu lado e das pessoas com as quais compartilho vivências por vezes traduzidas no tempo em que estamos juntos no meu consultório. E qual seria esse medo que a todos acompanha? Que a todos talvez estimule e emule suas vidas?
O medo de estar vivo, de continuar a escrever na estrada, cujo caminho se dá na curva do infinito, na subida de um horizonte e na perpendicular do universo, onde me dou conta que além de mim, outros também são seres finitos de infinitas possibilidades e inacreditáveis saudades. Saudades de tudo que se é e não se pode ser, pelo simples fato de ter sido e ao tecido de suas tramas e marcas, fazendo uma tatuagem em nossa memória de tudo o que mais queremos e por muitas vezes não sabemos e que somente quando a mais bela e odiosa donzela vem bater em nossa porta pedindo para zelar e revelar nosso caminho, que talvez nos faça depurar tais indagações: estou com medo realmente do quê? Do seu abraço frio, que todos iremos nos acalentar um dia? Das minhas preces, orações, promessas, sacrifícios, graças, glórias e bênçãos, que acreditei ter alçado êxito durante toda minha vida?
Arrisco dizer que talvez o real e terminal medo, seja de ter que continuar, sem saber quem não sou, que não gosto de espiar e talvez se identificar com o inverso do reflexo dos espelhos de nossas expectativas jamais proferidas e alcançadas, porém desejadas e ensinadas a todo instante .
Ter me deparado com a possibilidade de continuar a viver sem um ente querido, me deixou a possibilidade de querer estar vivo a todo instante, com todos e com tudo e por todos e por tudo, sempre desejando nada além do que o presente da presença, que a vida nos dá a cada segundo.
E vocês? Preferem morrer na vida que continua ou a viver a morte de se continuar vivo e se presenteando com a presença?
Marcus Phlavio é psicólogo e escreve as terças-feiras no Caderno no Divâ
Tópico: VIDA QUE TE QUERO VIVA(por Marcus Phlavio)
Nenhum comentário encontrado.